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terça-feira, 5 de abril de 2011

Ultimas horinhas antes do inferno



Tava trabalhando num esquema em parceria com um pessoal, não to mais.
Longa história. O post anterior à esse (abaixo) e o outro (dois ou três abaixo) falam um pouco do qq rolou.

To ocioso agora. E pensando bastante (só não tanto que estrague as coisas).


Andei pensando que, se por um lado existe o extremo comodismo profissional que é o cargo público (pelo menos aqui no Brasil), por outro lado existe uma vida de caminhada na guerra que é responder por uma pessoa jurídica. Experimentei um pouco dessa segunda opção. A coisa ficou feia, mas na soma final eu nunca trocaria por uma vida na gaiola da servidoria pública, com todo o respeito às pessoas que trabalham aí porque conheço algumas que figuram entre as pessoas mais trabalhadoras e corretas que conheço.

Foi interessante pra uma primeira vez:

Começou com dois meses e meio de estudo, preparação de material e diálogo com alguns possíveis clientes. As coisas tavam se alinhando dentro do esperado e planejado, e existia uma aparente calmaria. De leve eu fui tocando um projeto que apareceu, excelente pra início de carreira. Daí, no exato momento em que o meu passado negro sedutor me convidou pra um passeio na floresta das ilusões e eu tolo aceitei, aconteceu que também entregou a vida o meu cachorro de 15 anos. Essas duas coisas, na hora, aparentemente não me afetaram. Achei que tava tudo ok. Mas como diz aquela música: "someone told me long ago / there's a calm before the storm". Corri solto, e alguns dias depois veio essa força me sugando pra baixo, que nem essas correntes no mar que vêm um pouco depois de quebrarem as ondas e pegam o desavisado de surpresa e sugam ele pra alto mar, sem chance de resistência. Nesse caso, nada que o tempo não curasse, exceto que nesse repé, um cliente dos mais interessantes deu retorno positivo de um projeto bem complexo, que ia tá exigindo bastante de mim.

E só o que eu queria nessa hora era sumir, eu não queria ver nem meus pais, eu queria que Deus me cristalizasse por 15 eras e eu ficasse num estado letárgico inconsciente adormecido. Simples assim. Só que eu tinha um planejamento de 500 horas pra fazer, envolvendo outras duas empresas com orçamentos gordos dos quais eu tiraria alguma fatia, melhor ou pior negociada. Isso além do outro projeto pra terminar, e mais um protótipo pra fazer pra um terceiro cliente.

Bagulho pesou. Alguns dias de agonia, que não podia de forma alguma transparecer. Eu tava knocking on heavens door, literalmente: fui no centro espírita, cheguei 25 minutos antes do início dos trabalhos, e fiquei sentado naquele silêncio que tocava músicas clássicas muito agradáveis. E acho que uns dois ou três anjos me pegaram pelos braços e me levaram pra fora da Terra, e me sugeriram olhar pra baixo e entender o real tamanho do meu problema. E ele realmente ficou pequeno. Talvez se eu tivesse me injetado morfina eu teria um efeito semelhante. Mas não foi (ainda bem). Eu descansei nessa hora, e antes que eu percebesse eu tava de volta por aqui.

As semanas seguintes foram de extrema paz interior e de guerra exterior: longas, incríveis e complexas batalhas de palavras, sorrisos amáveis, carícias no ego e na vaidade, tentativas de sedução (algumas com efeito), etc. No meio disso, entre outras coisas (sendo essa com certeza a mais top), eu descobri no meu pai um herói, 27 anos de vida depois. Foram semanas muito centradas e produtivas. Essa pequena guerra, tão sutil (se comparada com o que tem por aí), me ensinou bastante coisa e segue ensinando, mas infelizmente não se chegou num termo em que fizesse sentido eu ficar lá por dentro.

Entenda como quiser mas o mundo material é só material.